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A Caixa da Aranha

Ao norte do Mundo Conhecido, no reino devastado de Abadom, existe uma pequena cidade, à beira do colossal e vasto Lago Denégrio. Aquele lugar, esquecido pelos deuses, é o resquício de um reino outrora rico e portentoso. Agora, sua pequena população sobrevive como pode da pesca e da parca agricultura que conseguem, a muito custo, produzir. Dragões são praticamente uma força da natureza. E nenhum reino de todo Tagmar conhecia melhor a fúria daquelas bestas aladas do que Abadom e seus sobreviventes. A última revoada das feras deixou o reino praticamente um monturo. Medo, dor e desespero levaram muitos habitantes ao limite. Os que sobreviveram se tornaram duros e desconfiados.

Rouge, Olhos de Leoa, já estava naquele fim de mundo há dois anos. Partira de sua cidade à procura do filho. E, depois de tantos dias de estrada, não estava mais perto de encontrá-lo do que no dia em que deixara o marido enfermo para trás. Rever o filho era o último desejo daquele velho tolo. E ela prometera concretizar aquilo, ou morrer tentando. Ela era uma mulher de fibra e língua feroz. Apesar de ser da raça dos pequeninos, poucos marmanjos na cidade tinham coragem de comprar briga com ela. Caçadora de tesouros, guarda costas, leão de chácara, exploradora e até aventureira. Já fora de tudo um pouco e ainda mais. Apesar dos cabelos brancos nas têmporas, a força do braço ainda era mais que suficiente. Dois anos longe de casa sem muito resultado. Mas tudo poderia mudar naquele dia.

No último ano a pequenina fez alguns serviços de risco a mando da guarda de Fleuter. Proteger caravanas, escoltar um ou outro mercador rico de passagem, guardar uma embarcação ou executar uma prisão. Naquelas idas e vindas conheceu uma guarda chamada Roserin. Habilidosa com lança e espadas, valente e determinada a guerreira tornou-se uma das poucas amigas que Rouge fez ao longo dos anos. Mais recentemente as duas haviam resgatado um mercador das mãos de patifes num barco pirata. Ganharam um bom dinheiro e certa notoriedade na cidade depois disso. Pelo que Roserin garantiu que conseguiria uma audiência com o governador de Fleuter: Eleriom, Braço-Forte. Amado pelo povo, líder capaz e grande guerreiro. Rouge tinha esperança que Eleriom pudesse usar sua influência para conseguir pistas de seu filho. Algo para o qual o dinheiro e os músculos da pequenina se tinham provado insuficientes.

Ainda era cedo da manhã quando Roserin bateu à porta do quarto onde Rouge morava. A pequenina havia alugado um espaço sobre o galpão de um vendedor de barcos. Bem localizado no porto de Fleuter e com uma vista incrível da baía do Lago Denégrio. Onde dezenas de barcos estavam atracados, a grande maioria apenas de passagem para outros portos mais ricos. Rouge lavou o rosto com água de uma tina e vestiu sua melhor roupa. Roserin trouxera boas notícias: Elerion poderia vê-la ainda pela manhã. Penteou os cabelos grisalhos num cacho alto sobre a nuca e os prendeu com um belo broche de prata em forma de adaga. Feito isso, as duas guerreiras tomaram a rua principal que levava do porto à fortaleza do chefe de Fleuter.

A fortaleza, na realidade, era uma grande mansão que já tivera dias melhores - bem como toda a cidade. Era guarnecida por uma dúzia de bons soldados e cerca de dez criados que cuidavam da cozinha, estábulos, limpeza e outras atividades fundamentais. Elerion era um senhor cortês e justo. Ele governava pelo exemplo e era servido com admiração e lealdade. As duas foram recebidas amistosamente por dois dos soldados da guarda. Roserin era companheira dos tais e já conhecia bem o lugar. Rouge também estivera ali outras vezes, mas nunca fora até o salão, onde estavam naquele momento, e que, também, era onde Elerion recebia o povo para dirimir questões, prestar homenagens e proferir sentenças. O senhor da cidade recebeu-as com um grande sorriso. Era um homem de meia idade com braços tais quais troncos de carvalho.

- Seja tão bem vinda minha querida Roserin! E também a pequenina Rouge, Olhos de Leoa! Bem vindas! Venham, venham! - convidou bastante caloroso.

- Somos gratas por seu tempo, meu senhor Elerion. - Respondeu Rouge com polidez e uma mesura.

- Tais formalidades são totalmente dispensáveis minha amiga! Venham sentem comido à mesa. Comamos enquanto conversamos!

Os três chegaram a uma mesa para seis lugares. Não era um banquete, mas a comida era boa e suficiente. Sem qualquer rodeio, o homem que tinha a alcunha muito merecida de Braço-Forte, iniciou:

- Roserin contou sobre sua demanda. Encontrar teu filho, o pequenino chamado Simeão. Conhecido por ser habilidoso ladino. - Rouge sopesou a entonação da palavra “ladino”, mas antes que ponderasse melhor, Elerion emendou: - Não te preocupes! Já disse: formalidades são totalmente desnecessárias aqui.

- Fico feliz em saber disso. - Disse Rouge. - É verdade, procuro por meu filho. Soube que ele pode ter trabalhado aqui na cidade, mas ninguém com quem eu tenha falado reconhece ter visto ou falado com ele.

- Não me assombra. Dado a provável natureza do “trabalho” que ele deve ter feito - riu Elerion, - Mas, acredito que a mim, essas mesma línguas, devem se mostrar mais cooperativas.

- Eu agradeço se puder ajudar senhor.

- Sim, de fato, creio que posso. Mas, também há algo que você poderia fazer por mim, Rouge, Olhos de Leoa, - disse o Braço-Forte de Fleuter. - Estaria disposta?

- Sou toda ouvidos meu senhor. - Respondeu Rouge, ciente de que, qualquer que fosse a aventura em que se meteria, valeria a pena se lhe trouxesse pistas de Simeão.

As próximas horas foram gastas em explicações e planejamento. Por meio de Eleriom, Rouge soube que a seita demonista conhecida como Bankdi estava atuando em Fleuter. Um mensageiro cultista fora capturado e confessou que estava levando um item para entregar ao grupo local. O plano consistia em que Rouge fosse a esse encontro e fingisse ser ela o emissário. Uma vez que os membros locais não conheciam o portador, nem ele os demais, era possível passar-se pelo prisioneiro. O dever de Rouge, disse Elerion, era: entregar a caixa, identificar os membros do culto em Fleuter e retornar a Elerion com essa informação. Daí para frente o governador cuidaria ele mesmo de encontrar os demonistas e destruir a influência do grupo na cidade.

O encontro seria dali a três dias. Rouge deveria ir sozinha levando uma arca de madeira que fora tomada do cultista. A caixa, feita de madeira reforçada, era estreita e baixa, mas comprida suficiente para guardar um arco ou espada. Era também leve e possuía adornos de aço e bronze com um belíssimo fecho esculpido na forma de uma aranha que, curiosamente, possuía um par de asas de morcego. O líder do bando - confessou o prisioneiro - deveria ter a chave para abrir o baú. Elerion achou melhor não tentar forçar a fechadura. Depois que o grupo fosse pego haveria tempo suficiente para descobrir o conteúdo da arca e os planos do bando. Viajar sozinho era raro e perigoso. No entanto, o mensageiro viajava sozinho. E Rouge, para cumprir o papel, também deveria.

Após a reunião, ela deixou a mansão-fortaleza e deu uma caminhada pela cidade. Comprou provisões: corda, óleo, queijo, carne salgada, frutas secas, um salame e um bom cajado da altura de um homem. Numa estalagem local comeu peixe apimentado cozido com batatas e ovos de tartaruga. Depois voltou para o seu quarto. Ajeitou uma mochila com o equipamento e as provisões para cinco dias. O encontro seria na Fortaleza Velha. Umas ruínas no pântano que ficava a dois dia de caminhada saindo ao norte e depois oeste de Fleuter. O tal local ficava na foz do rio Baloc. Onde ele deságua no Lago Denégrio dando origem a um extenso pantanal lamacento. Não deveria ser uma caminhada difícil. Seguindo o litoral a planície era terreno pouco acidentado. Sem estradas, mas também sem grandes perigos.

Já o pântano. Esse poderia ser um problema. Tinha fama de assombrado e perigoso. A própria ruína da fortaleza, que antigamente fora um posto de guarda que protegia a foz do rio, sempre aparecia em histórias locais sobre aventureiros e tesouros perdidos. Rouge sentiu a nuca eriçar-se e o estômago revirar um pouco: a excitação que antecede uma aventura. Fazia tempo que não sentia aquilo. Sorriu com a sensação e teve saudade de alguns amigos com quem viajou no passado e das encrencas nas quais se meteram. Limpou e afiou a espada. Conferiu o conteúdo da mochila pela última vez. E esperou por Roserin.

A guarda chegou à hora do crepúsculo e trouxe consigo a arca que Rouge deveria transportar. As amigas conversaram e beberam um pouco de rum observando o movimento no porto. Depois a humana partiu e Rouge foi deitar-se.
A pequenina acordou no meio da noite. Sobressaltada com um terrível pesadelo. Mas, tão logo despertou, o que quer que tivesse roubado seu sono e seu descanso dissipou da sua mente. Ao lado da cama ela fez uma prece a Blator, para ser o seu braço na batalha e a Cruine, para lhe dirigir o destino. Vestiu a armadura de couro, afivelou a espada e pegou mochila, cajado e lamparina. Ainda estava muito escuro quando se colocou a caminho. No porto, vários lampiões já estavam apagados; cães e ratazanas reviravam o lixo do dia anterior à procura de restos de peixe. Alguns marinheiros já perambulavam por ali envolvidos com suas tarefas e um bêbado ocasional tateava às escuras o caminho de casa.
Já fora da cidade ela cortou passos por dentro de algumas fazendas e plantações, principalmente batatas, e seguiu o melhor que podia para o norte.

Depois de uma pausa para o desjejum Rouge continuou em marcha firme até chegar numa lezíria repleta de atoleiros e juncos. O terreno difícil quase fez com que ela desistisse, mas já havia avançado muito para que voltar fosse opção. Queria chegar na fortaleza bem antes dos cultistas e talvez não fosse possível se voltasse dali. Então forçou a travessia pelo meio da lama experimentando o caminho a frente com o cajado. Atenta a cobras e outras coisas piores que podiam emergir do lodaçal. Sendo pequenina, seus pés eram grossos, grandes e peludos, portanto, quase sempre dispensavam botas de viagem. Apesar das passadas curtas, normalmente, conseguia percorrer tanto quanto qualquer soldado de infantaria num dia de caminhada, às vezes bem mais. Nesse passo, chegaria a fortaleza no cair da tarde do segundo dia. Ou seja, com bastante tempo para conhecer o local e estar bem preparada.

No fim da jornada naquele dia deixou para trás a lezíria e montou acampamento num pequeno platô rochoso no meio de um campo tranquilo e céu estrelado. Não demorou a pegar no sono. Mas levou ainda menos tempo para sobressaltar-se novamente depois de indizível pesadelo. Novamente, assim que despertou, esqueceu o terror que lhe atormentara durante o sono. Contudo, não conseguiu mais dormir naquela noite.

No dia seguinte, o segundo de sua viajem, abatida e cansada, chegou na extrema da região pantanosa pouco depois do sol cruzar o zênite. Achou que não conseguiria chegar na fortaleza antes do cair da noite. E acampar no meio da lama lhe parecia ainda menos sensato. Resolveu parar por ali e pela manhã muito cedo caminhar até o forte arruinado. Não estaria lá tão breve quanto planejara, contudo, ainda cedo o suficiente para conhecer a região.

Decidiu, então, aproveitar para comer e dormir para repor as energias da noite insone. Porém, antes que pudesse montar o acampamento um pássaro negro lhe chamou a atenção. Ela não tinha ideia de que ave era, tinha uma aparência muito parecida com um corvo, porém muito maior, quase do tamanho de um ganso ou pelicano. A estranha rapinante olhava com interesse e fixação diretamente nos olhos de Rouge.

- Xô! Xô! - Gritou a pequenina - Ave medonha. Agourenta. Xô! - Disse ela.

No entanto, o pássaro preto continuou sua observação fazendo pouco caso da tentativa de espantar. Rouge pegou uma boa pedra e fez mira contra o bico do bicho. Pequeninos são famosos por sua pontaria em jogos de arremesso e Rouge não era exceção. Disparou um belo e certeiro golpe. Mas a pedra simplesmente atravessou o pássaro como se ele fosse feito de vento.

- Calma pequenina - a voz do pássaro soou estridente e penetrou na alma de Rouge como se fosse uma faca fria. - O que você tem na arca, pequenina?

A pequena guerreira precisou reunir toda sua força de vontade para bravejar:

- Nada que seja da sua conta monstro!

- Muito pelo contrário, pequenina - sibilou o pássaro. - Sinto que há algo aí do meu interesse, pequenina. Porque não me dá isso? Hein, pequenina?

A voz da criatura parecia penetrar no juízo e na vontade de Rouge. Porém, mais uma vez a guerreira bradou, agora a plenos pulmões:

- NÃO! Vá embora ave das trevas!

Mas o pássaro não foi. Pelo contrário, deu um breve voo sobre onde Rouge estava e pousou, dessa vez mais perto, em um outro galho. Então disse:

- Já que não quer entregar, porque não me vende? Hein, pequenina? - a voz agora era provocativa e melodiosa. - Posso lhe dar muitas riquezas, é verdade, pequenina.

A pequena aventureira dessa vez parecia querer ceder. Já estava quase concordando. Só no último instante, quando sua vontade já estava quase exaurida, ela conseguiu gritar:

- Não, pássaro das trevas! Não lhe darei NADA! - então sentiu-se mais forte e completou: - Cruine te carregue para o vazio, ave infernal! Vá EMBORA!

A ave emitiu um trinado de indignação e ódio. Mas insistiu:

- Então o que lhe interessa, pequenina? Eu posso lhe dar.

Sem querer Rouge não resistiu em pensar no seu filho perdido e no seu esposo doente.

- Ah! Eu posso lhe ajudar! É verdade! - trilou a ave sombria. - Com todo dinheiro que terá! Poderá pagar o melhor dos magos, contratar os melhores rastreadores. Conquistar tudo que quiser!

Rouge, por fim, dobrou seus joelhos. Pegou a arca de entre as cobertas onde estava escondida e disse, já meio alucinada:

- Sim! É verdade! Poderei eu mesma pagar por tudo que quero. Conquistar tudo que necessito.

- Sim! Isso! Venha comigo, pequenina. Eu lhe mostro o caminho do tesouro, pequenina! - A voz do estranho pássaro conseguiu, por fim, destruir a vontade e a resistência da guerreira. Sem forças, ela colocou-se de pé e seguiu o pássaro levando consigo apenas a arca entre as mãos e a espada na cintura.

A ave executava pequenos voos entre uma árvore e outra e, assim, ia conduzindo a pequena guerreira através do labirinto de galhos tortos e lama. Levou muito tempo para que parassem. Apesar disso, Rouge estava completamente alheia ao cansaço e as pequenas contusões provocadas pela jornada extenuante feita até ali. Tão grande era seu anseio por encontrar o tesouro, que lhe traria seu filho e restauraria seu esposo, que não se dava conta de mais nada.

Estavam agora num lodaçal amplo e perigoso, repleto de atoleiros e juncáceas viçosas. Bem no meio do terrível pântano. Num dos lados daquele espaço fétido Rouge viu uma monstruosidade terrível. A carcaça de um imenso dragão negro projetava-se da lama. A bocarra escancarada, grande o suficiente para engolir um elefante, era incrível e amedrontadora. Como a entrada de um caverna medonha, cheia de dentes. Pedaços de carne pútrida ainda se pegavam aos ossos negros. Infestados de vermes, e tomados de lama, fungos e parasitas. A maior parte do monstro estava coberta pela lama. Mas uma asa, algumas costelas e a cauda, apenas ossos, podiam ser vistos brotando do meio do charco. E ali, entre os dentes da besta, estava uma pilha de ouro que enlouqueceria até o mais puro e devoto dos sacerdotes de Sevides.

O pássaro negro agourento pousou sobre um dos dentes protuberantes na arcada superior.

- Venha, pequenina. Pegue o seu ouro, pequenina. - a sua voz era um trinado sedutor. - Em troca deixe aqui a arca, pequenina.

Rouge, meio vacilante, começou a caminhar em direção da fera. Seu estômago revirava. A sensação de desespero e morte tão vivas e intensas que ela achava que poderia desmaiar. Mas a força das palavras da ave dirigia seus passos. Ela não podia fazer nada senão caminhar em direção ao ouro e ao sonho de encontrar o filho.

- NÃO! Pequenina estúpida! Tire-nos daqui.

A voz que Rouge ouviu era ao mesmo tempo familiar e estranha. E ela sentiu ao mesmo tempo dor, prazer e medo. Um medo profundo e primitivo que lhe arrancou do torpor e do feitiço do pássaro.

A guerreira sacudiu a cabeça, desnorteada. A montanha de ouro se desfez como um sonho e o pássaro deixou de existir com ela. Dentro do monstro em decomposição o que ela viu não era ouro, mas sim, dezenas de corpos putrefatos. Almas perdidas entre as presas, os juncos e a lama do pântano. Ela olhou ao redor. Mas não viu ninguém. Estava sozinha com as vozes dentro da sua cabeça brigando entre si para domina-la.

- Blator e Crezir, deem-me forças! Todos os deuses. Salvem-me. - Ela clamou.

Em seu espírito uma das vozes silenciou. Mas ao seu lado os corpos em decomposição se remexeram e, sustentados por sortilégio infernal, se puseram de pé. Quase uma dezenas de mortos caminhavam em direção a Rouge arrastando espadas enferrujadas, escudos partidos e morte nas órbitas vazias. Sobre a cabeça do maior dos mortos pousou o estranho pássaro negro que atraíra a pequenina para aquele lugar maldito.

A guerreira estreitou os olhos cor de mel e apertou o punho da espada. Ela sabia o que os mortos queriam: a arca. Mas entregar o tesouro dos cultista para aquelas criaturas das trevas não era uma opção. Lutar sozinha contra a magia daquele lugar esquecido pelos deuses seria loucura, mas não conseguiria fugir pelo meio da lama e dos juncos sem arriscar cair num poço e ser tragada pelo pântano. Estava sem alternativas. Morrer lutando parecia sua única possibilidade.

- Quebre a arca Rouge - disse a voz estranha e sedutora dentro de si. - Quebre a arca e use nosso poder. - A voz tinha urgência, mas também estava carregada de autoridade. Rouge quase não teve tempo de pensar. Os mortos avançavam e o tempo era escasso e vital.

Sacou a espada e arremeteu contra o inimigo mais próximo. A lâmina varreu o braço que empunhava um martelo e a perna direita da criatura. A guerreira patinou no lodo esquivando-se de um golpe contra seu rosto e por pouco não caiu na lama.

- Pequena louca! - rugiu a voz em sua cabeça. - não pode vencer! Quebre a arca!

Rouge permanecia lutando com todas as forças. Outro morto vivo caiu por sua espada quando ela destruiu sua medula com um golpe em arco devastador. Mas ainda haviam muitos.
- Seu marido vai morrer sozinho e seu filho nunca saberá o que aconteceu - disse a fera em sua mente.

A voz era sedutora e terrível. Provocava uma ânsia de dor e medo e Rouge não queria lhe atender. Entretanto a morte era iminente. A voz maldita estava certa. Seu marido e filho pereceriam sem saber que ela terminara seus dias no meio daquele pesadelo horrendo. Além disso, o tesouro dos Bankdi cairia nas mãos dos mortos e da força das trevas que os comandava.

A pequenina jogou a arca contra o chão e golpeou o trinco com toda força. A aranha alada que servia de fecho se partiu e o conteúdo do cofre caiu aos pés da pequenina. Dentro havia dois objetos singulares. Um grande ovo de aspecto maligno e superfície negra rajado de cinza e um pequeno cajado de madeira escura com uma cabeça de demônio esculpida em um dos extremos.

Lentos mas mortais e incansáveis os mortos fecharam o cerco contra a guerreira. Um deles agitou um sabre antigo e enferrujado, mas ela defendeu-se a tempo com sua lâmina. Outro acertou o lado de Rouge com uma lança velha e enferrujada. O golpe resvalou no couro do colete sem machucar a pequena combatente. Todavia, mesmo que tivesse lhe perfurado ela não teria percebido. Rouge já não era ela mesma. Seja qual fosse o mau dentro daquela caixa infernal, ele dominou completamente o corpo, a mente e a vontade da exausta pequenina.

Com olhos vidrados e um sorriso malicioso no rosto ela pegou o cajado profano e gritou uma palavra nefasta, suja e proibida. Quase que instantaneamente toda a vontade, o espírito e a vida de Rouge foram drenados. E da energia ali saqueada coisas vis e maléficas vieram a existência.

A pequena de olhos cor de mel sentiu tudo aquilo com um misto de repulsa e desespero. Ainda percebeu quando criaturas demoníacas esguias, disformes e repugnantes bateram asas e choveram ódio, garras e fogo sobre os mortos. Então, sem forças e quase morta, o mundo escureceu e ela caiu sobre os juncos do pântano.

Em seus pesadelos Rouge usava seu vestido de noiva. Houvera festa e muito bom vinho. Seu casamento havia sido perfeito: simples, alegre e com muitos amigos. Seu esposo era destemido e carinhoso. Seus amigos eram leais e virtuosos. O casal estava feliz. Eram suas núpcias. Ele tocava seu corpo com carícias ardentes e ela inundava-se de amor e desejo. Mas algo estava errado. Terrivelmente errado. O calor era pungente. Na escuridão do quarto ela tentou encontrar seu amado. Ele estava ali. Seus corpos entrelaçados, mas seus olhos eram negros e profundos como a noite. Da fronte dele cresceram chifres toscos e recurvos, a língua saltou por entre os lábios rubra, longa, fina e bifurcada. Roçou no pescoço dela como veneno então a face dele se contorceu numa horrenda carranca e gritou:

- ACORDE!

Rouge voltou a si. Dessa vez lembrava de tudo. Os pesadelos horríveis eram aqueles. Levantou-se com dificuldade. Estava fraca. Gelada. Ao seu redor restavam os sinais da luta. Corpos calcinados e mutilados. A arca quebrada. O imenso ovo negro e o cajado maldito também estavam ali. A certa distância o esqueleto do dragão parecia olhar para ela. Era dia. Ainda muito cedo. Percebeu que ficou desacordada desde o fim da tarde. Deuses sabiam quantos dias. Ela vomitou ao lembrar-se de como fora possuída, ou controlada, ou sabe-se lá o quê. Instintivamente procurou pelo pássaro negro. Nada encontrou. Não havia a menor lembrança do caminho que lhe trouxera ali. Mas ela era habilidosa e conhecia os sinais. A luz do sol lhe indicou a direção da praia, calculou que ainda estava na margem correta do rio e daí deduziu a direção da fortaleza. Procurar seus pertences agora seria impossível. Mas, se Cruine lhe dirigisse a jornada, ainda haveria tempo para encontrar a Fortaleza Velha e, talvez, os cultistas. O encontro era importante. Certamente eles ficariam por ali, mesmo que o emissário demorasse uns dias para chegar. Eles esperariam.

Por um instante cogitou simplesmente jogar no meio da lama aquela maldição. Mas sentia em seu íntimo que descobrir os demonólatras que infestavam Fleuter e garantir que fossem levados à justiça de Eleriom e dos deuses era muito importante. Ela dera sua palavra. E havia a possibilidade de encontrar seu filho perdido. Fazia sentido. Era a única coisa a se tentar fazer. Então recolheu os objetos no interior do baú, recolocou a tampa no lugar da melhor maneira possível e pegou sua espada. Escolheu um caminho pelo meio do mangue e partiu. Após alguns passos não conseguiu evitar perguntar-se: toda aquela lógica seria mesmo sua? Ou será que um desejo negro e distorcido ainda dirigia seus passos? Parou por uns instantes. Mas, por fim, resolveu seguir caminho. É claro que era ela, saberia se não fosse.

Foi uma jornada dura e penosa pelo meio dos atoleiros e das sendas pantanosas. Precisou voltar pelo caminho mais de uma ou outra vez. Mas, ao entardecer a pequenina Rouge chegou aos contrafortes da muralha sul da fortaleza.
O lugar era imenso. O muro era tão largo que uma carroça transitaria por cima dele com folga. As torres e o castelo deveriam ter abrigado centenas de soldados no passado. Se as ruínas eram tão impressionantes, Rouge imaginava o lugar em seus dias de glória. Agora, pedras soltas, colunas partidas, construções demolidas estavam por todo lado. A natureza já havia dominado sobre quase tudo. Coroando o lugar com herbáceas de todo tipo, árvores e pequenos animais.
Um pátio amplo ficava à vista tão logo qualquer pessoa cruzasse os arcos do muro externo. Ela se aproximou com cautela. Com o muro como cobertura, fez o possível para evitar ser vista por qualquer pessoa que estivesse no pátio o que era praticamente impossível. Bem desenhado, o pátio fora projetado exatamente para dar visão perfeita de quem entrasse ou saísse da fortaleza.

Apesar de tomado por gramíneas, escombros e arbustos o local ainda era amplo e belo. Rouge avistou um único homem. Vestido com manto verde musgo e apoiado num bordão. O sujeito estava sentado sobre uma pedra a certa distância, quase no meio do átrio, ele parecia ter pego no sono enquanto vigiava a entrada. Rouge aproximou-se um pouco mais, ultrapassando, pé ante pé, a área coberta do pórtico de entrada.

- Ei - chamou, nem alto nem baixo, o suficiente para ser ouvida daquela distância. Então achou estranho algo na postura do outro. Estava pouco natural. Num reflexo rápido ela saltou para o lado buscando refúgio entre os escombros de uma seção do muro interno. Apesar da velocidade e experiência dela o arqueiro teve bastante tempo para preparar um disparo certeiro. Resultado: uma flecha bem cravada na coxa esquerda de Rouge. “Um belo tiro”, ela pensou. “Estou de cara com um arqueiro competente”. Tentou abafar o gemido de dor.

- O que está havendo?! - Ela gritou por trás da cobertura, enquanto tentava espiar sobre o pátio. Ela viu dois sujeitos que saíam de seus esconderijos e tentavam, naquele momento, flanquear a posição dela junto ao muro. Nenhum tinha arco nem aljava e estavam de elmo fechado, então nenhum deles era o arqueiro. Já eram pelo menos três inimigos. “Um belo problema”, pensou: “três contra uma”.

- O que está havendo rapazes? Sou a mensageira - Gritou numa tentativa de distrair os inimigos. Ela precisava ganhar tempo. Olhou pelo outro lado. Ainda sem sucesso para achar o arqueiro, mas percebeu pelo menos dois corpos caídos ocultados por escombros, todos com mantos verdes. Vestidos iguais à “isca” montada sobre a pedra no meio do pátio. Rouge se concentrou e partiu a haste da flecha na perna. Retirou um do cintos e apertou bem na coxa, acima do ferimento, de modo a diminuir o sangramento. Fez tudo isso muito rápido e com a experiência de quem já conhecia bem aquele tipo de ferimento.

- Deixe a arca aí! - Gritou um dos dois mais próximos. Ele era grande, musculoso, negro e usava cordões e medalhas, braceletes e anéis todos dourados e brilhantes. - Depois pode ir embora, não lhe faremos nenhum mal. Prometo - Rouge rapidamente percebeu que se tratava de um patife. Decidiu acertadamente que não confiaria sua vida ao sujeito. A situação parecia cada vez mais perigosa.

- Nós podemos vencê-los juntos - disse o demônio em sua mente. Rouge sacudiu a cabeça com força. “Não cederei novamente à sua vontade”, pensou. Uma onda de náusea subiu por sua garganta quando lembrou do ocorrido na ossada do dragão. Apertou forte o punho da espada e desembainhou a arma: precisaria lutar. Não resistiria ao chamado do monstro por muito tempo. Tinha de por um fim à quilo enquanto havia tempo.

Rouge gritou o mais alto que seus pulmões permitiram e investiu ferocidade e força contra os dois oponentes - Por Blator! Blator!! Blator!!!

O negro foi pego com a guarda baixa e a fúria da pequenina acertou seu flanco e lhe causou um belo talho naquele lado. Ele arfou e gritou de dor. No entanto, Rouge planejara derrubá-lo, mas não conseguiu. Além disso, deixou a guarda aberta ao outro oponente. Para sua sorte, ele foi lento ao sacar a espada e a oportunidade de um contra golpe se fechou. No entanto, a lâmina que ele puxou era notável. Brilhante, longa e adornada de runas e pedras. “Uma coisa assim costuma ser perigosa”, ele meditou.

O negro, forte, grande e musculoso como era poderia ter sacado sua arma. Mas preferiu não perder a guarda baixa de Rouge e, com um avanço repentino, enfiou o punho com força entre as costelas da pequenina. Rouge tremeu, mas sustentou em a força do golpe. Ela era velha, mas experiente e determinada como uma leoa. E ainda mordia forte; e mortalmente. Como o negro bem descobriu.

Rouge ajustou um passo e sua lâmina encontrou uma brecha entre a quarta e quinta costelas do seu oponente. Ela ouviu o ar e o sangue espirrarem quando ela lhe atravessou o pulmão. Um milésimo de segundo antes da lâmina encontrar o coração da sua vítima. “Um a menos”, ela pensou. Todavia, agora tinha o outro guerreiro e a problemática espada dele à sua frente. Além do que, aquele arqueiro teria uma linha de tiro melhor agora. Pois havia um aliado a menos no campo para ele evitar.

- Não seja tola! - gritou consigo. - Pegue A caixa! - ela pensou. Mas percebeu a tempo que aqueles não eram seus pensamentos. Trincou os dentes e depois gritou - NÃO!

O guerreiro investiu contra ela. Dois golpes. Fortes e rápidos. Rouge sustentou os dois com a sua própria espada, mas seus braços quase desfaleceram. Aquela era uma arma impressionante. Se o sujeito fosse um pouco mais habilidoso ela não tinha dúvidas que os golpes teriam devastado sua espada, colete e todo o resto. Precisava acabar com isso rápido. O inimigo era forte e tinha uma arma poderosa. Mas tinha apenas uma fração da habilidade da pequenina.

Rouge segurou o cabo da sua espada e arremeteu contra o guerreiro com um golpe brutal e direto. Apostou todas as suas fichas naquela manobra. E teve sorte! Aquele ataque não era nada bonito, mas era devastador. Um lutador realmente hábil evitaria um ataque direto daquele com facilidade. Um lutador hábil. Não um jovenzinho com uma arma especial. O lutador caiu aos pés da pequenina com o peito aberto sob as placas de aço da armadura.
Quando ele parou de gemer e engasgar Rouge olhou atentamente os arredores.

- Onde foi parar o arqueiro? - pensou, ansiosa e temerosa que uma flecha saltasse das sombras a qualquer momento. Porém, vários minutos depois, tudo que lhe atingiu foi silêncio e dúvida.

Resolveu fazer uma busca no lugar. Encontrou os rastros do grupo inteiro. Continuava, apesar disso, sem saber muito sobre o que devia ter acontecido. É certo que os cultistas haviam sido mortos pelo segundo grupo, que, por sua vez, armaram uma cilada para o “emissário” (ela, no caso). Porque fizeram isso era impossível dizer. Assassinos contratados, caçadores de cultistas, vingança, enfim, havia um sem número de possibilidades. Encontrou, também, os rastros do arqueiro. Ele estivera posicionado numa janela a nordeste do muro interno. Rouge não saberia dizer o motivo pelo qual o ele resolveu partir. Mas isso ficou claro quando ela encontrou os pertences dos dois mortos e uma inspeção cuidadosa lhe mostrou que o arqueiro passou ali, recolheu tudo que lhe era precioso ou necessário e caminhou pântano adentro. Talvez ela ainda tivesse que se preocupar com ele, ou ela, durante o caminho de regresso. Mas por hora, estava segura.
Cuidou dos próprios ferimentos. Empilhou os corpos e reuniu os pertences e valores de todos os falecidos. Comeu, bebeu e dormitou num local coberto e reservado dentro do muro da fortaleza. Atenta a arqueiros sorrateiros e assassinos furtivos que quisessem esgueirar-se por ali. Teve a expectativa de acordar com algum pesadelo horrível; mas isso não aconteceu. Nem qualquer outro perigo lhe assolou pelo restante daquele dia ou da noite.

Com o raiar do sol ela tomou o caminho de volta a Fleuter. Dessa vez, tão logo deixou o pântano, seguiu a Leste até encontrar a costa e dali desceu ao Sul numa linha quase reta até a cidade. Havia mantimentos mais que suficientes nas coisas dos demonistas, além de algum dinheiro. Trouxe consigo, também, a espada preciosa do guerreiro. Além, é claro, da arca contendo o cajado e o estranho ovo negro. Acampou em lugares abertos, evitou fogueiras e teve cuidado dos próprios rastros. Com tudo isso, ao segundo dia, entendeu que o arqueiro, fosse quem fosse, não a estava seguindo.

Chegou a Fleuter na manhã do quarto dia. Caminhou direto para a mansão de Eleriom. Onde foi bem recebida e acolhida com bastante honra. Contou sua história e explicou onde deixara os corpos, além de lhes dar descrições detalhadas dos cultistas e dos homens que matou. Detalhou também o ocorrido na carcaça do Dragão e sobre o conteúdo da arca. Braço Forte lhe deu uma carta e a garantia de um lugar seguro em Fleuter sempre que precisasse. Ela agradeceu e entregou a ele, além de todas as coisas, a espada que trouxera. “Não tenho o desejo de ficar com isso. Seu dono é outro”, foi o que disse ao governador. Por fim, foi para casa. Descançou confortavelmente e leu pela centésima a carta que Eleriom lhe entregou: “Mãe, se precisar de mim, estarei em Quessedir. Seu filho, Simeão”.

O selo e a marca não deixavam dúvidas. Eram de seu filho. Quessedir ficava em Porto Livre, terra de piratas. Era o lar dos seus pais. Era também um lugar muito longe. Precisava se apressar.

Verbetes que fazem referência

Ambientação Extraoficial

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