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Traição e Magia .

Prólogo


Léom, primeira semana da primavera, 1500 D.C.

O ânimo de meu amado rei não é bom. Os últimos anos, que eram de grande prosperidade, tornaram-se sonhos e lendas contadas para os mais jovens, e doces recordações na mente dos que ainda estão vivos, esperando o fim de nosso reino.

Neste sepulcro em que estou, onde o tempo parece não passar e o silêncio é minha companhia, esforço-me por terminar meu trabalho. Tenho tudo que preciso e conto com a ajuda dos elfos, cuja memória é uma dádiva dos deuses. Já conversei com vários e muitos ainda tenho que conhecer, para assimilar seu conhecimento.

Antes de continuar, porém, deixe apresentar-me.

Meu nome é Iaquim Cibac. Sou um homem cuja habilidade é catalogar os anos, as eras, o passado. Já sou velho, com 66 verões bem vividos e muitos à frente que não quero ver se o fim a que todos pensamos chegar. Todos nós, desde a pequena nobreza até o grande povo, desejamos que essa seja mais uma página virada no destino traçado pelos deuses. Esperamos que o rei Azuma Olives I, O Rei da Esperança, retire a morte de nossos filhos da guerra que se aproxima.

O Barão Felas Irlim, curador da biblioteca real no Castelo das Brumas, pediu-me para ser um romancista, um bardo livre em versos. De tal forma aceitei, que meus pergaminhos escritos são contados em romance. Muito do que escrevo é de imaginação, reportando um tempo que não vivi, mas que ouso imaginar como teria se passado. São trechos reunidos de fragmentos mínimos, que somados aos meus pensamentos fazem reviver uma das lendas mais recitadas de nosso reino, cuja passagem tem início, meio e fim, com uma mulher. De forma alguma, a partir desse pergaminho, alguém verá minha participação se não como narrador e observador desse relato, escrito para o meu bondoso rei Azuma.

Não havia outro na biblioteca capaz de reunir o conhecimento que se não eu e o próprio Barão Felas, mas este não poderia, pois estava ocupado demais, mesmo para sua idade, com os preparativos de uma guerra. E a guerra se aproxima cada vez mais, como um enxame de vespas do pântano ela varreria nossas cidades, nosso povo, nossas lendas, e logo seríamos um povo esquecido cujos nomes jamais seriam contados nos pergaminhos da História. Pois a História é contada pelos vitoriosos e não pelos derrotados. Um fim que o Barão Felas tenta, desesperadamente, esmagar com a força da pena. E dou minha modesta contribuição.

Já faz duas semanas que não me comparo a um homem. Minhas refeições são parcas, minha boca anseia por água várias vezes, meus olhos tentam enxergar as miúdas letras de tempos distantes, meus ossos tremem à luz de uma vela e ao fogo morno de brasas incandescentes. Sou um velho cujo destino é salvar a vida de meu reino em pergaminhos, antes que os soldados verrogaris transformem estas terras em um cemitério dantseniano.

Devo, agora, preencher mais um pergaminho com o peso de minhas palavras, contando o porquê dessa história ser levantada centenas de anos depois de acontecida.

Com a morte de um dos filhos de Attos I, rei de Verrogar, uma declaração de guerra, ainda sem motivos esclarecidos, veio ao nosso reino. Não esperávamos por tal acontecimento e ainda estamos nos preparando enquanto o exército verrogari marcha rumo a nossa capital, Léom. Todos os que de alguma forma poderiam ajudar na defesa foram convocados; por isto o Barão Felas não está comigo. Unido a esta falha do destino, outro fato aumenta a necessidade de terminar esse relato para o meu rei: a rainha de Dantsem, uma belíssima meia-elfa chamada Mirna Tarama, não deu um filho a Azuma I, deixando o reino sem herdeiros.

O povo clama as notícias da guerra que são sempre catastróficas; generais e conselheiros de guerra dizem que Dantsem não tem forças para enfrentar a horda verrogari e o reino continua sem herdeiro.

Na batalha que se aproxima, meu rei Azuma conduzirá a precária força dantseniana rumo a horda de inimigos e se, nessa trivial batalha o rei Azuma perecer, continuaremos sem herdeiros.

Mesmo que sejamos vitoriosos, o que contraria as possibilidades, o reino de Dantsem não teria um descendente direto após morte do rei Azuma e da rainha Mirna.

Assim, tenho que terminar minha narrativa, pois o exército verrogari marcha incansavelmente rumo a Léom, diminuindo o tempo para que as defesas de Dantsem se fortaleçam e eu faça a vontade de meu rei de entregar esse romance.

“Que o bom Selimom aplaque o desânimo de meu coração”.


CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 12

EPÍLOGO

Créditos
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